Perdoar não é necessariamente esquecer,
mas valorizar menos a ofensa sofrida.
Perdoar é o ato mais corajoso do ser humano. É basicamente disso que Aloísio Silva* nos fala no seu livro com abordagem Espírita, Terapêutica do Perdão, recentemente publicado pela Editora Solidum (2011). O livro, dividido em 23 pequenos e profundos capítulos, 112 páginas, é escrito como quem conversa mineiramente com o leitor, usando palavras simples e pequenas histórias que ilustram sobre o ato de perdoar. Como bom professor – vocação e profissão – didaticamente o autor nos leva a reflexões muito pertinentes para esta época em que estamos vivendo onde a tônica parece ser pregar muito e praticar pouco ou diferente.
Prega-se a paz, mas promove-se a confusão; prega-se a importância da verdade, mas vive-se na mentira; prega-se a liberdade, mas aprisiona-se o libertador; prega-se o amor, mas esconde-se o coração; prega-se o perdão, mas promove-se a injustiça. A lista vai ficando extensa sobre o falar e o agir, por isso é razoável questionar: por que temos coragem de odiar, de enganar, de sabotar a nós mesmos e aos outros, e não temos coragem de Amar que nos traz saúde, paz e alegrias?
É muito difícil admitir ou entender que viver com a ausência do perdão é adoecedor na medida em que mágoas são cultivadas como se fossem tesouros os quais, em verdade, são feridas que sangram para dentro e não sabemos como estancar essa espécie de “hemorragia” que vai minando todas as nossas defesas. Portanto, quando não perdoamos, além de adoecermos o físico, comprometemos o espírito que carregará determinadas máculas por sucessivas encarnações.
Qual seria a terapêutica do perdão? Antes de tudo é o autoconhecimento, posto que quem busca se conhecer possui boa dose de confiança, em primeiro lugar no Pai e depois em si próprio. No capítulo 10 – Noites Traiçoeiras – Aloísio Silva ilustra com uma história simples e interessante: num cruzeiro o navio é assaltado por uma tempestade e há um corre-corre entre os passageiros apavorados, mas um garotinho permaneceu calmamente brincando som seus soldadinhos de chumbo. Alguém lhe pergunta se não estava assustado, ao que o garoto responde: “meu pai é o comandante do navio e eu confio no comando dele”. Então o autor continua a sua lição, lembrando que, embora escolhamos os nossos caminhos, há o Comandante Jesus de quem não podemos esquecer a proteção. No entanto é bom deixar claro que o autor não prega que devamos ser negligentes, e nos leva a viajar para o capítulo seguinte, quando aborda sobre os níveis da consciência, citando estudos do filosofo Gourdieff, e o nosso despertar pessoal para a Consciência Cósmica.
A terapêutica do perdão nos oferece a possibilidade de concluir que o perdão, como um dos atributos do Amor Incondicional, nos desprende de quem nos ofende ao mesmo tempo em que nos confere a liberdade de ser quem realmente somos, ou seja, seres divinos encarnados neste planeta para os aprendizados necessários à evolução espiritual plena.
Este livro não dá a fórmula mágica para a cura da nossa alma, mas nos aponta alguns caminhos para, pelo menos, começarmos a pensar na necessidade de nos perdoarmos e aos outros a fim de que recuperemos o “estado da graça” que é a cura definitiva das nossas feridas.
*Brevemente o autor, palestrante espírita, nos brindará com seu novo livro Por Entre as Dores.
Neuzamaria Kerner
Vitória, 16 de outubro de 2011