Este Blog é dedicado a Marise.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

TERAPEUTICA DO PERDÃO

Perdoar não é necessariamente esquecer,
mas valorizar menos a ofensa sofrida.
Perdoar é o ato mais corajoso do ser humano. É basicamente disso que Aloísio Silva* nos fala no seu livro com abordagem Espírita, Terapêutica do Perdão, recentemente publicado pela Editora Solidum (2011). O livro, dividido em 23 pequenos e profundos capítulos, 112 páginas, é escrito como quem conversa mineiramente com o leitor, usando palavras simples e pequenas histórias que ilustram sobre o ato de perdoar. Como bom professor – vocação e profissão – didaticamente o autor nos leva a reflexões muito pertinentes para esta época em que estamos vivendo onde a tônica parece ser pregar muito e praticar pouco ou diferente.
Prega-se a paz, mas promove-se a confusão; prega-se a importância da verdade, mas vive-se na mentira; prega-se a liberdade, mas aprisiona-se o libertador; prega-se o amor, mas esconde-se o coração; prega-se o perdão, mas promove-se a injustiça. A lista vai ficando extensa sobre o falar e o agir, por isso é razoável questionar: por que temos coragem de odiar, de enganar, de sabotar a nós mesmos e aos outros, e não temos coragem de Amar que nos traz saúde, paz e alegrias?
É muito difícil admitir ou entender que viver com a ausência do perdão é adoecedor na medida em que mágoas são cultivadas como se fossem tesouros os quais, em verdade, são feridas que sangram para dentro e não sabemos como estancar essa espécie de “hemorragia” que vai minando todas as nossas defesas. Portanto, quando não perdoamos, além de adoecermos o físico, comprometemos o espírito que carregará determinadas máculas por sucessivas encarnações.
Qual seria a terapêutica do perdão? Antes de tudo é o autoconhecimento, posto que quem busca se conhecer possui boa dose de confiança, em primeiro lugar no Pai e depois em si próprio. No capítulo 10 – Noites Traiçoeiras – Aloísio Silva ilustra com uma história simples e interessante: num cruzeiro o navio é assaltado por uma tempestade e há um corre-corre entre os passageiros apavorados, mas um garotinho permaneceu calmamente brincando som seus soldadinhos de chumbo. Alguém lhe pergunta se não estava assustado, ao que o garoto responde: “meu pai é o comandante do navio e eu confio no comando dele”. Então o autor continua a sua lição, lembrando que, embora escolhamos os nossos caminhos, há o Comandante Jesus de quem não podemos esquecer a proteção. No entanto é bom deixar claro que o autor não prega que devamos ser negligentes, e nos leva a viajar para o capítulo seguinte, quando aborda sobre os níveis da consciência, citando estudos do filosofo Gourdieff, e o nosso despertar pessoal para a Consciência Cósmica.
A terapêutica do perdão nos oferece a possibilidade de concluir que o perdão, como um dos atributos do Amor Incondicional, nos desprende de quem nos ofende ao mesmo tempo em que nos confere a liberdade de ser quem realmente somos, ou seja, seres divinos encarnados neste planeta para os aprendizados necessários à evolução espiritual plena.
Este livro não dá a fórmula mágica para a cura da nossa alma, mas nos aponta alguns caminhos para, pelo menos, começarmos a pensar na necessidade de nos perdoarmos e aos outros a fim de que recuperemos o “estado da graça” que é a cura definitiva das nossas feridas.

*Brevemente o autor, palestrante espírita, nos brindará com seu novo livro Por Entre as Dores.

Neuzamaria Kerner
Vitória, 16 de outubro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

SOBRE O MAL QUE EXISTE E NÃO EXISTE


Mestre, poderíamos dizer que o mal é o que se esqueceu de ser o bem; a luz que não saiu das trevas. No entanto as definições são puramente maniqueístas. Na verdade o mal é igual ao bem se entendermos que tudo é interligado, tudo tem a ver com tudo porque são “entidades” com forças idênticas dentro do universo onde todas as forças são cabíveis e não poderiam existir independentes. São necessárias em igualdade, complementam-se porque unas.
Para exemplificar a minha compreensão imaginemos o mal como uma pedra bruta, mas que quando é burilada de suas entranhas emerge o que ele é em essência, ou seja, o bem. Portanto o bem está contido no mal que é o bem. A pedra trabalhada fica “transparenciada” para nela seja vista a perfeição, o perfeito. Aquilo que está feito por inteiro.
Numa analogia o mal – gramaticalmente falando – é um advérbio (de modo), palavra com prefixo latino “ad” que significa movimento para algo, em direção a alguma coisa ou lugar; aproximação. Lembrando que também há o verbo a significar ação, fato que se passa com os seres, ou em torno dos seres, podemos ver, portanto, a similitude entre verbo e advérbio. O primeiro “age”, cria; o segundo (em linguagem comum) “transforma” a ação (do verbo) num movimento aproximador dos seres, donde podemos depreender que o mal é o bem de modo indissociado.
Quando falo naquilo que não pode ser apartado vejo Exupery dizendo, pela boca do príncipe, que o real da propriedade, do território de cada um não está numa ou noutra coisa, nas cabras, ou nas pedras, ou nas árvores, mas no que está além disso – no invisível aos olhos – porque cabras, pedras, árvores e o proprietário são um só. Assim como o poeta Paul Valery falou da flecha (de Zenão) “que vibra, voa, e que não voa, que a mesma flecha mata e faz renascer”.
Por sua vez Chico Xavier dizia que os inimigos são nossos aliados que nos  empurram ao progresso, na medida em que expõem nossas feridas ou imperfeições o que nos obrigam a olhá-las e corrigi-las. Então o inimigo não é o mal. A flor da vitória régia só se abre para perfumar a noite, mas fechando suas pétalas, prende o besouro inocente que vai cheirá-la. Isso poderia ser o mal, mas é o bem que pela manhã libera o inseto para a polinização que fará nascer outras vitórias. São pequenos exemplos de que mal e bem são quânticos: o que é e não é ao mesmo tempo.

O mal e o bem, por conseguinte, são gêmeos univitelinos e não se sobrepõem um ao outro porque estão em estado de comunhão, como tudo no universo, que funciona harmoniosamente apesar de nós, humanos e tolos, que nos hierarquizamos, disputamos posições e confundimos tudo.
 
O mal é o prefixo do advérbio. É o movimento na ação de um verbo. É ora lebre ora tartaruga. É a alternância. É a bênção que não compreendemos. Só isso.                
(O INÍCIO VIROU O FINAL)

Neuzamaria -16/12/2011


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

NÃO RESISTAIS AO MAL

Ouvi uma leitura num grupo de orações de um trecho do Evangelho de Mateus (5:39) a respeito do que Jesus disse sobre a resistência ao mal: “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal”. Em seguida muitas explicações vieram sobre o assunto. Alguns disseram que a frase era difícil de ser compreendida; outros justificaram sobre as diversas traduções que vêm sendo feitas nestes mais de dois mil anos, idiomas diferentes, palavras que tomaram outro significado, principalmente porque a língua de Jesus era o aramaico; surgiram ideias sobre o autoconhecimento que nos leva ao domínio da nossa tendência humana de revidar uma ação ruim com outra igual ou pior, entre outras explicações interessantes.
Comecei a pensar muito naquela frase que achava incoerente porque, com certeza, a intenção de Jesus não era dizer que nós déssemos o braço ao mal e saíssemos passeando nas beiras do Genezaré. Pensei também que não podemos interpretar o que não compreendemos porque compreender é o primeiro passo, é entender exatamente o que o outro disse, quem é esse outro que diz, circunstâncias históricas, etc. Interpretar é - após coletar dados sobre o que se leu ou que ouviu dizer – ir além do texto, estabelecendo relações intertextuais, o diálogo entre diversos textos. Portanto é aprofundar a compreensão, é deduzir, é concluir, fazer ilações, isto é, inferir logicamente.
Então me lembrei das correntes de retorno que um dia aprendi a respeito com um salva-vidas na praia. Ele dizia que as pessoas se afogavam, muitas vezes até em lugares rasos, porque ficavam afobadas quando tentavam nadar e não conseguiam sair do lugar. A corrente não deixa. Ensinou-me também que é preciso conhecer o movimento da corrente, relaxar e deixar que ela “expulse” a pessoa que está no seu centro. Aí sim, é hora de bater os braços e as pernas “pra-que-te-quero”.
A discussão não podia se prolongar muito porque o tempo era curtíssimo e tive que conter a minha ansiedade de falar mais. Mesmo assim escrevi rapidamente algumas coisas e deixei-as gestando até o tempo e a inspiração virem para a luz da minha razão, ou consciência, ou entendimento ou como se queira chamar. Nesse momento em que escrevo só estou revendo as palavras e frases anotadas e ajeitando-as em seus devidos lugares.
Então acredito que o Mestre tenha dito mesmo não resistais ao mal. Se nós resistirmos a ele, seremos vencidos para sempre amém. No entanto, para que o vençamos, é preciso conhecê-lo porque, assim como o bem, o mal está dentro de nós. É preciso meter a mão na alma, pegar o mal, trazê-lo para diante dos olhos e do coração e mirá-lo demoradamente. Acolhê-lo para conhecê-lo e colher suas preciosas lições. Respirar seu “respiro”* e fazer a conexão com o universo, com o Espírito Santo de Deus para que o mal transpareça e possamos ceifá-lo desde a raiz. Isso requer um esvaziamento mental, por isso imagino que Jesus tenha ido para o deserto e jejuar: ficar vazio do material (alimento terreno) para ser preenchido pela iluminação divina; para preparar-se para uma “batalha espiritual”; para que a forma do que precisava conhecer surgisse em sua inteireza e pudesse dominá-la. Foi isso que Ele quis nos ensinar.
Então o que chamam de Diabo (que pode ser um bem) tentou o Filho. Mas o filho estava pronto para reconhecê-lo porque conhecia a si próprio e ao mal que O tentou, oferecendo-lhe mundos sem fundos – os ilusórios onde se luta pelo poder violentamente, onde as bofetadas são devolvidas, onde a maldade grassa, onde a vingança é a lei.
Dominar os impulsos deletérios, as más tendências é compreender que aprendemos a não resistir ao mal porque o conhecemos e sabemos dos estragos que ele pode causar. Em verdade, o mal pode ser qualquer coisa que fira a lei do amor, portanto, dessa fala de Jesus – não resistais ao mal – pagar o mal com o mal é desamor e uma forma de desamar. E quem não ama não perdoa. Na frase pronunciada por Jesus está implícito o ensinamento do perdão.
Foi dessa forma que compreendi e interpretei. Agora vou precisar pensar muito em outra coisa que ainda não entendi de uma fala do Sermão da Montanha: bem-aventurados os pobres de espírito... Mas agora minha inspiração foi descansar.

Neuzamaria – 25/11/2011 – depois do estudo no SEGUIR


sábado, 8 de outubro de 2011

KRISHNA AZUL

Oh, Krishna Azul!
Que feitiço jogaste em mim?
Pois sedento de amor
Continuo vagando assim.
Vem tocando tua flauta,
Oh, meu querido Hari!
Vem jorrando tuas bênçãos
Oh, meu querido Hari!

 (Para Luiz Fernando, abençoado anjo amigo)


A flauta de Krishna não toca como diz meu amigo, Sri Surendra, na sua composição musical. Essa flauta canta, por isso seduz. Não há palavras – elas são polissêmicas por natureza - que possam “contaminar” a consciência com significados que não sejam senão a intenção de louvar, agradar, agradecer, dançando ao som do instrumento e da palavra que cada mente produz. Dançar também é uma forma de louvar. Cada ouvinte que acolha o som, dance dentro dele e coloque para si mesmo as palavras que devem ir para o coração. Krishna diz o que queremos ouvir por isso ele é sedutor.



É provável que o Amor seja azul, como Krishna e os olhos de Jesus, porque essa é a cor do céu, do relaxamento, e essa cor de pele - segundo os hinduístas - representa o ideal da nova humanidade futura. Pensando assim fica até interessante, visto que já temos amarelos, brancos, vermelhos, pretos...

Lembro-me agora da palavra hebraica Ahava, que li num livro. O autor* diz que essa palavra significa amor, afeto e têm cor azul. A chama azul é o fogo alquímico que purifica, transcende e reagrupa. Nela estão contidos a amizade, a cumplicidade e o desejo. É a chama que alimenta e mantêm aquecidos nossos sentimentos, que permeia o encontro urgente dos corpos para muito além do sensual. Essa parte me faz lembrar Mira Alfassa, companheira espiritual de Sri Aurobindo. Mas essa é outra história.
Voltando o assunto para Krishna, pelas histórias lidas e ouvidas, senti nele uma divindade muito atraente em vários aspectos. Mitológico ou não, vejo-o como um santo de ideias muito interessantes. Ele, por exemplo, não falava da renúncia material, mas do desapego ao que se possui. Ele falava que não se deve trabalhar esperando recompensa nem da terra nem do céu, mas pelo prazer de fazê-lo apenas para louvar o Criador. Não falava no sofrimento resignado porque no fim haveria a recompensa pelas renúncias e pelos sacrifícios. Mas pregava o Amor Incondicional, pois é assim que Deus nos ama e nos deu tudo incondicionalmente, abundantemente. Nem o nosso "sim" para Ele é pedido. Mas aí entra o que Krishna falava da Consciência de que é preciso corresponder a esse imenso Amor, cantando, dançando, incensando e mantendo nos lábios o nome do Senhor, assim, mantendo a união com o Divino. 
Muitos santos já vieram aqui - e continuam vindo, mas não prestamos atenção - nas mais diversas religiões, pregando o que Krishna nos orientou, contudo sempre alertando-nos para a dificuldade da entrega da própria presença ao outro, semelhante ou não, ou seja, a todos os seres que estão no Universo e cumprem a função de serem parte e unos com tudo. O apóstolo Paulo explicou com simplicidade: porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. Por isso essa unicidade tem a ver com a entrega porque implica cuidar de mim que me entrego ao outro que também sou eu. Ou seja, se eu cuido do outro, também estou cuidando de mim. Em tudo que se toca está presente a gratidão de o outro - porque existe - ser uma dádiva que deve ser tocado com suavidade e alegria. Portanto, amado sem economias de sentimentos. Bacana essa filosofia!
Somos todos muito jovens e ainda não compreendemos o que é ser uno porque estamos possuídos pelos desejos de posse seja lá pelo que for. Jesus também falou dessa posse pelo outro, talvez tenha sido por isso que - dizem - preservou o corpo do contato sexual exatamente para mostrar o perigo do sexo pelo sexo porque, pela imaturidade espiritual, podemos "cair em tentação" de nos aprisionarmos ao outro e este a nós. Aí entra o ego e a confusão fica estabelecida... É um palpite (ou hipótese?) o motivo de Jesus não ter se "acasalado". No entanto com Krishna foi diferente, nesse ponto, porque "acasalou-se" muito, porém demonstrava que a castidade está na alma e se a alma está casta, o corpo não se corrompe na ilusão (Maia).
Numa palestra foi perguntado a um santo - Swami Tílak - sobre a diferença entre amor e sexo. Ouvi a resposta dele, com aquele sorriso azul de Krishna: eu posso amar a todo o mundo, mas não posso fazer sexo com todo o mundo. Essa resposta está de acordo com Paulo que nos ensinou a sábia frase: tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Nessa época da palestra do Swami as pessoas estavam muito confusas com relação ao assunto, creio que pelas más interpretaçoes que foram dadas sobre a fala de Osho Rajneesh.
Há muitos mestres, muitos Krishnas azuis, muitas perguntas, muitas respostas nem sempre satisfatórias. Há muitas explicações para muitas coisas. O importante mesmo é sair perguntando, ouvindo respostas, lendo, criando ideias porque elas nos fazem continuar na busca. Por causa disso finalizo esta minha fala com um pequeno grande texto que li:
Vi muitas vezes homens que ficam neuróticos quando se contentam com respostas insuficientes ou falsas às questões da vida. Procuram situação, casamento, reputação, sucesso exterior e dinheiro; mas permanecem neuróticos e infelizes, mesmo quando atingem o que buscavam. Essas pessoas sofrem de uma grande limitação do espírito. Sua vida não tem conteúdo suficiente, não tem sentido. Por esse motivo a ideia de auto-aprimoramento tem a maior importância (Jung).
Sejamos, então, sedutores e seduzidos pelo som da flauta do Amor. Viva a oportunidade de viver na azulidade!

*Wilson Alexandre Martins Ferreira – Ahava: A chama Azul do Afeto – Ed. Do Autor. Vitória, 2011.
                                                              Neuzamaria Kerner
                                                                       06/10/2011


sexta-feira, 27 de maio de 2011

COMPREENSÃO

“... Então o que é certo e o que é errado? Para mim, a percepção é o certo. Se você estiver com raiva, mas em total percepção, até a raiva estará certa. E se você estiver amando sem percepção, mesmo o amor estará errado. Então deixe a qualidade da percepção estar presente em todos os seus atos, em cada pensamento, em cada sonho que você tem. Deixe que a qualidade da percepção penetre em seu ser cada vez mais. Banhe-se na qualidade da percepção. Então qualquer coisa que você fizer será uma virtude. Então qualquer coisa que você fizer será uma bênção para você e para o mundo em que vive...”
(Osho em O Livro da Transformação).
 O trecho acima é uma pequena parte de como o autor explica sobre o uso do chicote por Jesus para expulsar do templo de Jerusalém aqueles que estavam usando o lugar sagrado para a exploração do povo. Esse acontecimento se tornou um problema para os cristãos que não conseguiam compreender por que Jesus – o arauto da paz - teve aquela atitude. Mas Jesus, espírito perfeito, possuía compreensão, percepção e consciência e sabia o porquê do seu gesto naquele momento.
Na verdade a grande questão está no entendimento dos conceitos de copreensão, percepção e consciência. O fato é que somos consciência e não sabemos que somos porque é dela de onde emana a percepção de nossa experiência como humanos na terra, bem como o pensamento, a ação e a interação com a realidade do outro em nós. Por isso dizer que os relacionamentos são importantes porque oferecem as maiores oportunidades de aprender as lições que viemos aprender. Por isso nenhum relacionamento é insignificante ou acidental porque é nele que aprendemos a compreender.
Compreensão e percepção são palavras sinônimas, mas com hierarquias um pouco diferentes, no entanto as duas nunca estão desatreladas. A percepção é um pouco mais complexa porque envolve múltiplos aspectos das informações recebidas pelo nosso cérebro de humano desatento. Nossa percepção é limitada porque só compreendemos a vida dentro daquilo que já conhecemos. Mas Jesus compreendia de forma ampla por causa da sua conexão absoluta com a Verdade que conhecia: Deus. Por isso Sua consciência era plena e Sua percepção ilimitada. Daí ter podido usar o chicote contra os vendilhões do templo porque Suas emoções não afetavam a percepção da realidade.
A compreensão, portanto, é o instrumento fundamental ao ser humano para o relacionamento com o outro e deve permanecer sempre em nossa consciência porque, queiramos ou não, dividimos o mesmo espaço universal onde vivemos com nossos companheiros os quais, por uma série de motivos, são diferentes de nós.
A diversidade que nos separa é a mesma que nos une, embora isso possa parecer contraditório. Gostos, vontades, sonhos, pontos de vista são diferentes, mas isso não quer dizer que uns são possuidores de maravilhosas qualidades e características perfeitas e outros não. À medida que nos observamos vamos fazendo o exercício de olhar também  o outro com todas as circunstâncias que envolvem as duas partes: eu  e tu. Esse olhar sobre a diversidade humana traz pontos positivos porque nos faz aceitar o outro como igual e diferente ao mesmo tempo, o que possibilita tornarmo-nos pessoas mais perceptivas e “compreendedoras”.
A compreensão está ligada ao amor que nos iguala perante Deus. A compreensão de que a nossa existência está ligada à presença do outro – o que nos faz unos – é um dos caminhos para o aperfeiçoamento e a evolução espiritual.

Neuzamaria Kerner – 25/05/2011

 

sábado, 30 de abril de 2011

PASSAGEIRO (NAS CATEDRAIS)

(Para minha amiga Anna Secomandi)


Tenho viajado de catedral em catedral
vezes silencioso
outras barulhando sinos
para dizer da minha presença;
vezes pagando dívidas
outras contraindo-as
mas sempre honrando palavras
para dever menos.

Tenho viajado de catedral em catedral
e quando estou no centro de suas naves
vejo como funcionam engrenagens humanas
que mesmo solitárias não funcionam sós:
peças por peças movem-se dependentes
e independentes das minhas próprias.

Quando iluminadas as catedrais
uno fios
reparo molas
e tiro seus rangeres com óleos das lamparinas
que mesmo quando sem chamas
é o bálsamo que encontro
 - somente nas catedrais -
para os consertos precisos.

Os talentos para o sustento de cada hora
são extraídos das catedrais invisíveis
mas vistas apenas em presenças sentidas no interior:
             tão poucos talentos!...
             tão tantos haveres!...

Sou viajeiro
passageiro nas catedrais
que permanecerão nas lembranças
nas ruínas
nas reformas
dos tempos que me levam para a próxima catedral
até quando for mudado
o meu estado de matéria
não sei quando
porque velho
porque manco
porque falho
quase cego
canso fácil...

Mas sei que a distância entre as catedrais e meu destino
se encurta e me alonga por igual...
afinal é para isso que tenho viajado
de catedral em catedral.


                                         Neuzamaria Kerner
                                           (talvez Sandro em 30/04/11)

O MAHASAMADHI DE SATHYA SAI BABA

Muitas pessoas visitavam Satya Sai Baba no seu ashram. Algumas por devoção, outras por curiosidade em vê-lo materializar coisas que desejavam. Um homem perguntou qual a diferença entre eles dois porque Satya Sai podia fazer “aquelas mágicas” e ele não. Sai Baba, com aquele sorriso sereno, sem nenhuma vaidade, respondeu: a diferença é que eu acredito que sou deus e você não.

Essa historinha ficou ruminando na minha cabeça por muito tempo porque eu também ainda queria realizar coisas miraculosas. Tempos depois, juntando as leituras que havia feito sobre este meu guru e histórias de outros meus – porque tenho muitos gurus, muitos mestres – entendi. Todavia não vou entrar em detalhes agora.

Cantei num coral, regido pela maestrina, Ishwari, e aprendi muitos mantras indianos e outros que repetimos todos os dias, horas, e minutos e nem sabemos que estamos repetindo mantras. Um deles Sai Baba repetia e nos recomendava o mesmo. Gayatri Mantra:

               Om bhur bhuvaha svaha           (Ó Deus da vida que traz felicidade)
               Om tat savitur varenyam         (Dá-nos tua luz que destrói pecados)
               Bhargo devasya dhimahi          (Que a tua dinvidade nos penetre)
               Dhiyo yonah pra chodayat       (E possa inspirar nossa mente)

Então acordo hoje, domingo de páscoa, com a notícia do Mahasamadhi – morte física de um mestre iluminado, de acordo com o hinduismo – de Sathya Sai Baba. Todos os dias são bonitos para viver ou morrer... daí não vou dizer que o guru escolheu um dia lindo para viajar para as estrelas somente porque nesse dia há um significado especial para os judeus e os cristãos (aliás nem sempre em datas coincidentes). Outros escolhem se juntar, sem nenhum objetivo religioso, mas apenas pelo prazer de comemorar e bebemorar a companhia dos amigos num dia lindo qualquer.

Mas eu não quero falar de religiões, apenas dizer que fui agraciada por conhecer Sai Baba,  um mestre iluminado que pregou as mesmas coisas que tantos outros mestres, encarnados ou não, pregaram: sobre o amor incondicional, sobre o esforço para a reforma interior, a busca da santidade de cada um, da compreensão de que somos diferentes, mas apenas um, afinal todos – deuses e diabos – somos um, embora possamos escolher caminhos diferentes. o todo está em tudo! o inefável é invisível aos olhos da carne, mas é visível à inteligência e ao coração. (Hermes Trismegisto), a propósito do que escrevi antes sobre a nossa unicidade.

Desde todos os tempos os mestres vêm nos alertando sobre a importância do amor, do perdão, da generosidade, da gratidão e outros sentimentos e atitudes relacionadas. Quando falo de mestres, não me refiro àqueles a quem denominamos santos (convenções), mas de todos aqueles que plantam uma semente do bem em nosso coração e nos fazem ter a vontade de aguá-la para que ela crie força e sobreviva apesar de...

Daí, w., eu pedir socorro à minha memória para registrar alguns pensamentos de mestres que inspiram e iluminam nossa mente sempre que queremos elevar o nosso padrão vibracional.


Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca. (C.. Lispector).

Quando a gente ama, simplesmente ama; é impossível explicar. (O. Montenegro).

Só se vê bem com os olhos do coração. (Exupery).

Deus não lhe dá mais do que você pode carregar. (Jesus).

A devoção, por si mesma, não é essencial. É o amor, a verdade, a virtude, a ânsia de progredir, de servir, de expandir seu coração, de envolver toda a humanidade em seu amor, de ver a todas as formas da consciência divina. (Sathya Sai Baba).

Professores, não acreditem que o serviço prestado às crianças é apenas para o bem delas. é também para o seu próprio bem. as crianças são lâmpadas que iluminam o caminho da nação. Os professores podem transformar a nação se desempenharem adequadamente o seu papel. Professores e alunos somente sentirão a verdadeira alegria quando se unirem através do amor que não exige retribuição. Cumpram seus deveres com espírito de dedicação, amor e serviço, e sejam exemplos luminosos para o país e para o mundo. Plantem no coração as sementes da verdade, não-violência, ação correta, paz e amor. E a colheita deve ser armazenada em seus corações e dividida com todos. (Sathya Sai Baba).

A diferença entre amor e sexo? É possível fazer amor com todo mundo, mas não fazer sexo com todo o mundo. (Swami Tilak).

O senhor não daria banho em um leproso nem por um milhão de dólares? eu também não. Só por amor se pode dar banho em um leproso. (Teresa de Calcutá).

Não esqueça que você é feito de beleza e faz parte deste harmonioso e maravilhoso universo. Você é vida! Você é luz! Pare um pouco e pense nisso. Você será, queira ou não, o resultado de suas ações. Existe uma vida linda te esperando. Ame, porque a luz que te criou existe no teu coração. (Nando Cordel).

Tens o direito de escolher o teu caminho, aquele que deves seguir. Ao fazê-lo, repassa pela mente os objetivos que persegues, os recursos que se encontram à tua disposição íntima assinalando o estado evolutivo, a fim de teres condição de seguir. Se possível, opta pelos caminhos do coração. Eles, certamente, levarão os teus anseios e a tua vida ao ponto de luz que brilha à frente esperando por ti. (Joana de Angelis/Divaldo Franco).

Namastê para Sai Baba!

Vou parando por aqui, mas deixando uma musiquinha de presente pra você, também meu mestre, e para o meu pai que, se estivesse aqui na terra, faria niver hoje, 24 de abril. Engraçado... estamos sempre indo e vindo e coincidindo e aniversariando e desaniversariando.

Bj

p.s.Também quero agradecer ao pro aluno e professor – ao mesmo tempo porque, no meu entendimento, é assim que a vida funciona -, Bruno Bonela que me ajudou a colocar a musiquinha com a imagem no You Tube a fim de que pudéssemos postar aqui.