Ouvi uma leitura num grupo de orações de um trecho do Evangelho de Mateus (5:39) a respeito do que Jesus disse sobre a resistência ao mal: “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal”. Em seguida muitas explicações vieram sobre o assunto. Alguns disseram que a frase era difícil de ser compreendida; outros justificaram sobre as diversas traduções que vêm sendo feitas nestes mais de dois mil anos, idiomas diferentes, palavras que tomaram outro significado, principalmente porque a língua de Jesus era o aramaico; surgiram ideias sobre o autoconhecimento que nos leva ao domínio da nossa tendência humana de revidar uma ação ruim com outra igual ou pior, entre outras explicações interessantes.
Comecei a pensar muito naquela frase que achava incoerente porque, com certeza, a intenção de Jesus não era dizer que nós déssemos o braço ao mal e saíssemos passeando nas beiras do Genezaré. Pensei também que não podemos interpretar o que não compreendemos porque compreender é o primeiro passo, é entender exatamente o que o outro disse, quem é esse outro que diz, circunstâncias históricas, etc. Interpretar é - após coletar dados sobre o que se leu ou que ouviu dizer – ir além do texto, estabelecendo relações intertextuais, o diálogo entre diversos textos. Portanto é aprofundar a compreensão, é deduzir, é concluir, fazer ilações, isto é, inferir logicamente.
Então me lembrei das correntes de retorno que um dia aprendi a respeito com um salva-vidas na praia. Ele dizia que as pessoas se afogavam, muitas vezes até em lugares rasos, porque ficavam afobadas quando tentavam nadar e não conseguiam sair do lugar. A corrente não deixa. Ensinou-me também que é preciso conhecer o movimento da corrente, relaxar e deixar que ela “expulse” a pessoa que está no seu centro. Aí sim, é hora de bater os braços e as pernas “pra-que-te-quero”.
A discussão não podia se prolongar muito porque o tempo era curtíssimo e tive que conter a minha ansiedade de falar mais. Mesmo assim escrevi rapidamente algumas coisas e deixei-as gestando até o tempo e a inspiração virem para a luz da minha razão, ou consciência, ou entendimento ou como se queira chamar. Nesse momento em que escrevo só estou revendo as palavras e frases anotadas e ajeitando-as em seus devidos lugares.
Então acredito que o Mestre tenha dito mesmo não resistais ao mal. Se nós resistirmos a ele, seremos vencidos para sempre amém. No entanto, para que o vençamos, é preciso conhecê-lo porque, assim como o bem, o mal está dentro de nós. É preciso meter a mão na alma, pegar o mal, trazê-lo para diante dos olhos e do coração e mirá-lo demoradamente. Acolhê-lo para conhecê-lo e colher suas preciosas lições. Respirar seu “respiro”* e fazer a conexão com o universo, com o Espírito Santo de Deus para que o mal transpareça e possamos ceifá-lo desde a raiz. Isso requer um esvaziamento mental, por isso imagino que Jesus tenha ido para o deserto e jejuar: ficar vazio do material (alimento terreno) para ser preenchido pela iluminação divina; para preparar-se para uma “batalha espiritual”; para que a forma do que precisava conhecer surgisse em sua inteireza e pudesse dominá-la. Foi isso que Ele quis nos ensinar.
Então o que chamam de Diabo (que pode ser um bem) tentou o Filho. Mas o filho estava pronto para reconhecê-lo porque conhecia a si próprio e ao mal que O tentou, oferecendo-lhe mundos sem fundos – os ilusórios onde se luta pelo poder violentamente, onde as bofetadas são devolvidas, onde a maldade grassa, onde a vingança é a lei.
Dominar os impulsos deletérios, as más tendências é compreender que aprendemos a não resistir ao mal porque o conhecemos e sabemos dos estragos que ele pode causar. Em verdade, o mal pode ser qualquer coisa que fira a lei do amor, portanto, dessa fala de Jesus – não resistais ao mal – pagar o mal com o mal é desamor e uma forma de desamar. E quem não ama não perdoa. Na frase pronunciada por Jesus está implícito o ensinamento do perdão.
Foi dessa forma que compreendi e interpretei. Agora vou precisar pensar muito em outra coisa que ainda não entendi de uma fala do Sermão da Montanha: bem-aventurados os pobres de espírito... Mas agora minha inspiração foi descansar.
Neuzamaria – 25/11/2011 – depois do estudo no SEGUIR
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