KRISHNA AZUL
Oh, Krishna Azul!
Que feitiço jogaste em mim?
Pois sedento de amor
Continuo vagando assim.
Vem tocando tua flauta,
Oh, meu querido Hari!
Vem jorrando tuas bênçãos
Oh, meu querido Hari!
(Para Luiz Fernando, abençoado anjo amigo)
A flauta de Krishna não toca como diz meu amigo, Sri Surendra, na sua composição musical. Essa flauta canta, por isso seduz. Não há palavras – elas são polissêmicas por natureza - que possam “contaminar” a consciência com significados que não sejam senão a intenção de louvar, agradar, agradecer, dançando ao som do instrumento e da palavra que cada mente produz. Dançar também é uma forma de louvar. Cada ouvinte que acolha o som, dance dentro dele e coloque para si mesmo as palavras que devem ir para o coração. Krishna diz o que queremos ouvir por isso ele é sedutor.
É provável que o Amor seja azul, como Krishna e os olhos de Jesus, porque essa é a cor do céu, do relaxamento, e essa cor de pele - segundo os hinduístas - representa o ideal da nova humanidade futura. Pensando assim fica até interessante, visto que já temos amarelos, brancos, vermelhos, pretos...
Lembro-me agora da palavra hebraica Ahava, que li num livro. O autor* diz que essa palavra significa amor, afeto e têm cor azul. A chama azul é o fogo alquímico que purifica, transcende e reagrupa. Nela estão contidos a amizade, a cumplicidade e o desejo. É a chama que alimenta e mantêm aquecidos nossos sentimentos, que permeia o encontro urgente dos corpos para muito além do sensual. Essa parte me faz lembrar Mira Alfassa, companheira espiritual de Sri Aurobindo. Mas essa é outra história.
Voltando o assunto para Krishna, pelas histórias lidas e ouvidas, senti nele uma divindade muito atraente em vários aspectos. Mitológico ou não, vejo-o como um santo de ideias muito interessantes. Ele, por exemplo, não falava da renúncia material, mas do desapego ao que se possui. Ele falava que não se deve trabalhar esperando recompensa nem da terra nem do céu, mas pelo prazer de fazê-lo apenas para louvar o Criador. Não falava no sofrimento resignado porque no fim haveria a recompensa pelas renúncias e pelos sacrifícios. Mas pregava o Amor Incondicional, pois é assim que Deus nos ama e nos deu tudo incondicionalmente, abundantemente. Nem o nosso "sim" para Ele é pedido. Mas aí entra o que Krishna falava da Consciência de que é preciso corresponder a esse imenso Amor, cantando, dançando, incensando e mantendo nos lábios o nome do Senhor, assim, mantendo a união com o Divino.
Muitos santos já vieram aqui - e continuam vindo, mas não prestamos atenção - nas mais diversas religiões, pregando o que Krishna nos orientou, contudo sempre alertando-nos para a dificuldade da entrega da própria presença ao outro, semelhante ou não, ou seja, a todos os seres que estão no Universo e cumprem a função de serem parte e unos com tudo. O apóstolo Paulo explicou com simplicidade: porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. Por isso essa unicidade tem a ver com a entrega porque implica cuidar de mim que me entrego ao outro que também sou eu. Ou seja, se eu cuido do outro, também estou cuidando de mim. Em tudo que se toca está presente a gratidão de o outro - porque existe - ser uma dádiva que deve ser tocado com suavidade e alegria. Portanto, amado sem economias de sentimentos. Bacana essa filosofia!
Somos todos muito jovens e ainda não compreendemos o que é ser uno porque estamos possuídos pelos desejos de posse seja lá pelo que for. Jesus também falou dessa posse pelo outro, talvez tenha sido por isso que - dizem - preservou o corpo do contato sexual exatamente para mostrar o perigo do sexo pelo sexo porque, pela imaturidade espiritual, podemos "cair em tentação" de nos aprisionarmos ao outro e este a nós. Aí entra o ego e a confusão fica estabelecida... É um palpite (ou hipótese?) o motivo de Jesus não ter se "acasalado". No entanto com Krishna foi diferente, nesse ponto, porque "acasalou-se" muito, porém demonstrava que a castidade está na alma e se a alma está casta, o corpo não se corrompe na ilusão (Maia).
Numa palestra foi perguntado a um santo - Swami Tílak - sobre a diferença entre amor e sexo. Ouvi a resposta dele, com aquele sorriso azul de Krishna: eu posso amar a todo o mundo, mas não posso fazer sexo com todo o mundo. Essa resposta está de acordo com Paulo que nos ensinou a sábia frase: tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Nessa época da palestra do Swami as pessoas estavam muito confusas com relação ao assunto, creio que pelas más interpretaçoes que foram dadas sobre a fala de Osho Rajneesh.
Há muitos mestres, muitos Krishnas azuis, muitas perguntas, muitas respostas nem sempre satisfatórias. Há muitas explicações para muitas coisas. O importante mesmo é sair perguntando, ouvindo respostas, lendo, criando ideias porque elas nos fazem continuar na busca. Por causa disso finalizo esta minha fala com um pequeno grande texto que li:
Vi muitas vezes homens que ficam neuróticos quando se contentam com respostas insuficientes ou falsas às questões da vida. Procuram situação, casamento, reputação, sucesso exterior e dinheiro; mas permanecem neuróticos e infelizes, mesmo quando atingem o que buscavam. Essas pessoas sofrem de uma grande limitação do espírito. Sua vida não tem conteúdo suficiente, não tem sentido. Por esse motivo a ideia de auto-aprimoramento tem a maior importância (Jung).
Sejamos, então, sedutores e seduzidos pelo som da flauta do Amor. Viva a oportunidade de viver na azulidade!
*Wilson Alexandre Martins Ferreira – Ahava: A chama Azul do Afeto – Ed. Do Autor. Vitória, 2011.
Neuzamaria Kerner
06/10/2011
Bom dia Amada,
ResponderExcluirQuanto mais leio essas belezas, mais me vejo cheio de pecados. Como é difícil ser puro. Como é difícil ser limpo.
Parabéns pela beleza do texto e pela profundidade de alma nele colocada.
bjos.w
Minha querida e amada amiga,
ResponderExcluirParabéns sempre por tudo o que escreve e que nos ensina a cada momento a ler cada vez mais e principalmente refletir sobre as nossas ações.
Obrigada amiga pela boa leitura que sempre nos proporciona.
bjs
Querida Kamala,
ResponderExcluirEncaminhei seu texto KRISHNA AZUL para outros amigos daqui do RJ e de outros lugares porque sempre que você escreve ficamos mais ricos. A sua fala sempre preenche o mundo de mais luz e mais amor porque é isso que você é, em essência. O Swamiji sempre esteve certo com relação a você.
Que bom que está cada vez mais fazendo o que é seu talento inato. E Vitória lhe trouxe isso de volta. Parabéns! (Creio que a vinda de Júlia tb lhe inspira permanentemente...)
Uma linda semana para vc.
Carinho,
Ishwari
Gente querida,
ResponderExcluirFico contente com honra que vocês me dão. Se eu falo sempre de Amor foi porque vocês me ensinaram a ser assim. São os nossos Mestres que me disciplinam e não me deixam sair do prumo. Quando eu paro de escrever, por preguiça, minhas orelhas ardem. rsrsrs
LUZ! LUZ para todos.
Neuzamaria
Amadinha,
ResponderExcluircomo você pode parar tanto tempo de escrever sobre coisas da alma, reflexões sobre a vida, sobre os santos, sobre os deuses, sobre o sentimentos espirituais? como é bonito ver a importância que vc dá a todos e sempre colocando-os na condição de anjos, como fez com a pessoa a quem dedicou o nosso Krishna Azul. a gente fica abandonado sem você. não esqueça deste blog porque somos da jornada e com muita vontade de aprender, mas parece que você fica dando mais atenção ao outro blog. ciuminhos, liga não.
muito love de nós
ananda,viveka e a galera toda
Hello, Nós do coisas doidas!
ResponderExcluirOlhem o que aprendemos sobre o ego... estão querendo me fazer regredir? kkkkkkkkk prometo andar mais por aqui principalmente pra lembrar dos velhos tempos que a gente fazia guirlandas de flores depois da saudação ao sol em Brasília. Estou precisando de vocês. Passem um e-mail sobre a recombinação das flores e ervas diversas pra novas guirlandas. Estou precisando do exercício.
Om Shanti!
Minha querida Neuzamaria, muito lindo seu texto. Vc como sempre nos presenteando com lindas e sábias palavras. Palavras cheias de Luz e Paz, assim como voce é. Parabens e que seu brilho sempre ilumine nossas vidas. Bjs
ResponderExcluirDe Ivete
De: Marialva Devaki
ResponderExcluirPara: Neuzamaria
Achei muito pertinentes as comparações feitas sobre Krishna e Jesus. A hipótese levantada a respeito dos motivos do "acasalamento", como você diz, tanto de um como do outro é interessante, mas bastante ousada no que se refere à escolha do grande mestre ocidental porque isso é um mistério.
O que eu gostei mais foi a sua insistência na unidade dos seres todos e nesse amor incondicional por todos e por tudo. Esse amor acompanhado da alegria e do serviço desinteresado. A humanidade precisa rotomar isso. A MÃE viveu assim com Sri Aurobindo lá em Aurovile na Índia. Faltou você falar de Radha, a shakti de Krishna, que o amou sem a posse, a vida inteira.
Oh, mas acho que você voltará a falar sobre isso.
O Luis Fernando pra quem você escreveu é hinduista também? Você já recebeu o novo CD de Surendra Devis & Devas? (Hare Rama - muito bonito!)
Nahma para você!
Marialva Devaki
MARIALVA DEVAKI, sempre menina!
ResponderExcluirSó assim a gente se fala. Que bom que você respondeu ao meu e-mail. Não se preocupe com a postagem no blog. Faça como fez agora, mande pro meu e-mail que eu transfiro pra cá somente o que for estritamente sobre o comentário do texto. Don't worry!
Pra ser igual a Radha e à Mãe tem que ser bem desapegada mesmo. Qualquer dia desses escreverei sobre Radha comparando conosco, as mulheres deste século. Boa ideia você me deu.
Recebi, sim, o novo CD do Surendra e as Devis. Mãe Ishwari mandou. Espetacular!!! Todo harmonioso. O meu amigo a quem dedico o texto não é hinduista, mas um praticante do bem universal, digamos asim.
IVETE PRETINHA
Computador é assim mesmo. Posta como anônimo mesmo. Caramba, ser da paz exige um esforço retado. Você sabe disso melhor do que eu porque tem mais paz interior. Eu sou é sortuda de ter gente iluminada como você por perto. Mas não elogia muito não porque vai que eu acredito... então oro, oro, oro pra não ficar vaidosa (só um pouquinho!) rsrsrs
WADO, QUERIDO.
ResponderExcluirNão existe pecado se a alma é casta. Além do mais esse negócio de pecado é muito relativo. Você, amado, é uma das pessoas mais puras que eu já conheci.
Obrigada pelo comentário.
Namaste,querida poetisa.Lindas palavras emanam de um coração devoto como o seu.Que Hari,o todo atrativo,continue lhe seduzindo com o som da sua doce flauta e do seu divino canto. Surendra
ResponderExcluirDate: Wed, 12 Oct 2011 16:36:03 -0300
ResponderExcluirOlá neuzamaria:
Desculpe-me não ter lido o seu e-mail antes. Gostei, como sempre, do seu texto. Acho que vc. fez uma miscelânia (no bom sentido) do que é o fundamento de todas as religiões... o amor incondicional. Apesar de reconhecer que esta sua pobre alma e amiga está muito longe de "praticar" de verdade, a essência deste ensinamento.
Bjs. penha
Já tentei fazer vários comentários e nenhum dá certo. D. Martha conseguiu e agora já não consegue mais, o que ta acontecendo não sei, não nos chame de ...
ResponderExcluirCada vez que tento deixar um comentário, é mais uma leitura que faço, e com prazer, afinal ler os seus textos só me trazem alegria e prazer.
Vc com a sua sapiência, sabedoria e bondade nos presenteia ou melhor está sempre "doando palavras".