Mestre, poderíamos dizer que o mal é o que se esqueceu de ser o bem; a luz que não saiu das trevas. No entanto as definições são puramente maniqueístas. Na verdade o mal é igual ao bem se entendermos que tudo é interligado, tudo tem a ver com tudo porque são “entidades” com forças idênticas dentro do universo onde todas as forças são cabíveis e não poderiam existir independentes. São necessárias em igualdade, complementam-se porque unas.
Para exemplificar a minha compreensão imaginemos o mal como uma pedra bruta, mas que quando é burilada de suas entranhas emerge o que ele é em essência, ou seja, o bem. Portanto o bem está contido no mal que é o bem. A pedra trabalhada fica “transparenciada” para nela seja vista a perfeição, o perfeito. Aquilo que está feito por inteiro.
Numa analogia o mal – gramaticalmente falando – é um advérbio (de modo), palavra com prefixo latino “ad” que significa movimento para algo, em direção a alguma coisa ou lugar; aproximação. Lembrando que também há o verbo a significar ação, fato que se passa com os seres, ou em torno dos seres, podemos ver, portanto, a similitude entre verbo e advérbio. O primeiro “age”, cria; o segundo (em linguagem comum) “transforma” a ação (do verbo) num movimento aproximador dos seres, donde podemos depreender que o mal é o bem de modo indissociado.
Quando falo naquilo que não pode ser apartado vejo Exupery dizendo, pela boca do príncipe, que o real da propriedade, do território de cada um não está numa ou noutra coisa, nas cabras, ou nas pedras, ou nas árvores, mas no que está além disso – no invisível aos olhos – porque cabras, pedras, árvores e o proprietário são um só. Assim como o poeta Paul Valery falou da flecha (de Zenão) “que vibra, voa, e que não voa, que a mesma flecha mata e faz renascer”.
Por sua vez Chico Xavier dizia que os inimigos são nossos aliados que nos empurram ao progresso, na medida em que expõem nossas feridas ou imperfeições o que nos obrigam a olhá-las e corrigi-las. Então o inimigo não é o mal. A flor da vitória régia só se abre para perfumar a noite, mas fechando suas pétalas, prende o besouro inocente que vai cheirá-la. Isso poderia ser o mal, mas é o bem que pela manhã libera o inseto para a polinização que fará nascer outras vitórias. São pequenos exemplos de que mal e bem são quânticos: o que é e não é ao mesmo tempo.
O mal e o bem, por conseguinte, são gêmeos univitelinos e não se sobrepõem um ao outro porque estão em estado de comunhão, como tudo no universo, que funciona harmoniosamente apesar de nós, humanos e tolos, que nos hierarquizamos, disputamos posições e confundimos tudo.
O mal é o prefixo do advérbio. É o movimento na ação de um verbo. É ora lebre ora tartaruga. É a alternância. É a bênção que não compreendemos. Só isso.
(O INÍCIO VIROU O FINAL)
Neuzamaria -16/12/2011
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