Este Blog é dedicado a Marise.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

TERAPEUTICA DO PERDÃO

Perdoar não é necessariamente esquecer,
mas valorizar menos a ofensa sofrida.
Perdoar é o ato mais corajoso do ser humano. É basicamente disso que Aloísio Silva* nos fala no seu livro com abordagem Espírita, Terapêutica do Perdão, recentemente publicado pela Editora Solidum (2011). O livro, dividido em 23 pequenos e profundos capítulos, 112 páginas, é escrito como quem conversa mineiramente com o leitor, usando palavras simples e pequenas histórias que ilustram sobre o ato de perdoar. Como bom professor – vocação e profissão – didaticamente o autor nos leva a reflexões muito pertinentes para esta época em que estamos vivendo onde a tônica parece ser pregar muito e praticar pouco ou diferente.
Prega-se a paz, mas promove-se a confusão; prega-se a importância da verdade, mas vive-se na mentira; prega-se a liberdade, mas aprisiona-se o libertador; prega-se o amor, mas esconde-se o coração; prega-se o perdão, mas promove-se a injustiça. A lista vai ficando extensa sobre o falar e o agir, por isso é razoável questionar: por que temos coragem de odiar, de enganar, de sabotar a nós mesmos e aos outros, e não temos coragem de Amar que nos traz saúde, paz e alegrias?
É muito difícil admitir ou entender que viver com a ausência do perdão é adoecedor na medida em que mágoas são cultivadas como se fossem tesouros os quais, em verdade, são feridas que sangram para dentro e não sabemos como estancar essa espécie de “hemorragia” que vai minando todas as nossas defesas. Portanto, quando não perdoamos, além de adoecermos o físico, comprometemos o espírito que carregará determinadas máculas por sucessivas encarnações.
Qual seria a terapêutica do perdão? Antes de tudo é o autoconhecimento, posto que quem busca se conhecer possui boa dose de confiança, em primeiro lugar no Pai e depois em si próprio. No capítulo 10 – Noites Traiçoeiras – Aloísio Silva ilustra com uma história simples e interessante: num cruzeiro o navio é assaltado por uma tempestade e há um corre-corre entre os passageiros apavorados, mas um garotinho permaneceu calmamente brincando som seus soldadinhos de chumbo. Alguém lhe pergunta se não estava assustado, ao que o garoto responde: “meu pai é o comandante do navio e eu confio no comando dele”. Então o autor continua a sua lição, lembrando que, embora escolhamos os nossos caminhos, há o Comandante Jesus de quem não podemos esquecer a proteção. No entanto é bom deixar claro que o autor não prega que devamos ser negligentes, e nos leva a viajar para o capítulo seguinte, quando aborda sobre os níveis da consciência, citando estudos do filosofo Gourdieff, e o nosso despertar pessoal para a Consciência Cósmica.
A terapêutica do perdão nos oferece a possibilidade de concluir que o perdão, como um dos atributos do Amor Incondicional, nos desprende de quem nos ofende ao mesmo tempo em que nos confere a liberdade de ser quem realmente somos, ou seja, seres divinos encarnados neste planeta para os aprendizados necessários à evolução espiritual plena.
Este livro não dá a fórmula mágica para a cura da nossa alma, mas nos aponta alguns caminhos para, pelo menos, começarmos a pensar na necessidade de nos perdoarmos e aos outros a fim de que recuperemos o “estado da graça” que é a cura definitiva das nossas feridas.

*Brevemente o autor, palestrante espírita, nos brindará com seu novo livro Por Entre as Dores.

Neuzamaria Kerner
Vitória, 16 de outubro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

SOBRE O MAL QUE EXISTE E NÃO EXISTE


Mestre, poderíamos dizer que o mal é o que se esqueceu de ser o bem; a luz que não saiu das trevas. No entanto as definições são puramente maniqueístas. Na verdade o mal é igual ao bem se entendermos que tudo é interligado, tudo tem a ver com tudo porque são “entidades” com forças idênticas dentro do universo onde todas as forças são cabíveis e não poderiam existir independentes. São necessárias em igualdade, complementam-se porque unas.
Para exemplificar a minha compreensão imaginemos o mal como uma pedra bruta, mas que quando é burilada de suas entranhas emerge o que ele é em essência, ou seja, o bem. Portanto o bem está contido no mal que é o bem. A pedra trabalhada fica “transparenciada” para nela seja vista a perfeição, o perfeito. Aquilo que está feito por inteiro.
Numa analogia o mal – gramaticalmente falando – é um advérbio (de modo), palavra com prefixo latino “ad” que significa movimento para algo, em direção a alguma coisa ou lugar; aproximação. Lembrando que também há o verbo a significar ação, fato que se passa com os seres, ou em torno dos seres, podemos ver, portanto, a similitude entre verbo e advérbio. O primeiro “age”, cria; o segundo (em linguagem comum) “transforma” a ação (do verbo) num movimento aproximador dos seres, donde podemos depreender que o mal é o bem de modo indissociado.
Quando falo naquilo que não pode ser apartado vejo Exupery dizendo, pela boca do príncipe, que o real da propriedade, do território de cada um não está numa ou noutra coisa, nas cabras, ou nas pedras, ou nas árvores, mas no que está além disso – no invisível aos olhos – porque cabras, pedras, árvores e o proprietário são um só. Assim como o poeta Paul Valery falou da flecha (de Zenão) “que vibra, voa, e que não voa, que a mesma flecha mata e faz renascer”.
Por sua vez Chico Xavier dizia que os inimigos são nossos aliados que nos  empurram ao progresso, na medida em que expõem nossas feridas ou imperfeições o que nos obrigam a olhá-las e corrigi-las. Então o inimigo não é o mal. A flor da vitória régia só se abre para perfumar a noite, mas fechando suas pétalas, prende o besouro inocente que vai cheirá-la. Isso poderia ser o mal, mas é o bem que pela manhã libera o inseto para a polinização que fará nascer outras vitórias. São pequenos exemplos de que mal e bem são quânticos: o que é e não é ao mesmo tempo.

O mal e o bem, por conseguinte, são gêmeos univitelinos e não se sobrepõem um ao outro porque estão em estado de comunhão, como tudo no universo, que funciona harmoniosamente apesar de nós, humanos e tolos, que nos hierarquizamos, disputamos posições e confundimos tudo.
 
O mal é o prefixo do advérbio. É o movimento na ação de um verbo. É ora lebre ora tartaruga. É a alternância. É a bênção que não compreendemos. Só isso.                
(O INÍCIO VIROU O FINAL)

Neuzamaria -16/12/2011