Este Blog é dedicado a Marise.

sábado, 8 de outubro de 2011

KRISHNA AZUL

Oh, Krishna Azul!
Que feitiço jogaste em mim?
Pois sedento de amor
Continuo vagando assim.
Vem tocando tua flauta,
Oh, meu querido Hari!
Vem jorrando tuas bênçãos
Oh, meu querido Hari!

 (Para Luiz Fernando, abençoado anjo amigo)


A flauta de Krishna não toca como diz meu amigo, Sri Surendra, na sua composição musical. Essa flauta canta, por isso seduz. Não há palavras – elas são polissêmicas por natureza - que possam “contaminar” a consciência com significados que não sejam senão a intenção de louvar, agradar, agradecer, dançando ao som do instrumento e da palavra que cada mente produz. Dançar também é uma forma de louvar. Cada ouvinte que acolha o som, dance dentro dele e coloque para si mesmo as palavras que devem ir para o coração. Krishna diz o que queremos ouvir por isso ele é sedutor.



É provável que o Amor seja azul, como Krishna e os olhos de Jesus, porque essa é a cor do céu, do relaxamento, e essa cor de pele - segundo os hinduístas - representa o ideal da nova humanidade futura. Pensando assim fica até interessante, visto que já temos amarelos, brancos, vermelhos, pretos...

Lembro-me agora da palavra hebraica Ahava, que li num livro. O autor* diz que essa palavra significa amor, afeto e têm cor azul. A chama azul é o fogo alquímico que purifica, transcende e reagrupa. Nela estão contidos a amizade, a cumplicidade e o desejo. É a chama que alimenta e mantêm aquecidos nossos sentimentos, que permeia o encontro urgente dos corpos para muito além do sensual. Essa parte me faz lembrar Mira Alfassa, companheira espiritual de Sri Aurobindo. Mas essa é outra história.
Voltando o assunto para Krishna, pelas histórias lidas e ouvidas, senti nele uma divindade muito atraente em vários aspectos. Mitológico ou não, vejo-o como um santo de ideias muito interessantes. Ele, por exemplo, não falava da renúncia material, mas do desapego ao que se possui. Ele falava que não se deve trabalhar esperando recompensa nem da terra nem do céu, mas pelo prazer de fazê-lo apenas para louvar o Criador. Não falava no sofrimento resignado porque no fim haveria a recompensa pelas renúncias e pelos sacrifícios. Mas pregava o Amor Incondicional, pois é assim que Deus nos ama e nos deu tudo incondicionalmente, abundantemente. Nem o nosso "sim" para Ele é pedido. Mas aí entra o que Krishna falava da Consciência de que é preciso corresponder a esse imenso Amor, cantando, dançando, incensando e mantendo nos lábios o nome do Senhor, assim, mantendo a união com o Divino. 
Muitos santos já vieram aqui - e continuam vindo, mas não prestamos atenção - nas mais diversas religiões, pregando o que Krishna nos orientou, contudo sempre alertando-nos para a dificuldade da entrega da própria presença ao outro, semelhante ou não, ou seja, a todos os seres que estão no Universo e cumprem a função de serem parte e unos com tudo. O apóstolo Paulo explicou com simplicidade: porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. Por isso essa unicidade tem a ver com a entrega porque implica cuidar de mim que me entrego ao outro que também sou eu. Ou seja, se eu cuido do outro, também estou cuidando de mim. Em tudo que se toca está presente a gratidão de o outro - porque existe - ser uma dádiva que deve ser tocado com suavidade e alegria. Portanto, amado sem economias de sentimentos. Bacana essa filosofia!
Somos todos muito jovens e ainda não compreendemos o que é ser uno porque estamos possuídos pelos desejos de posse seja lá pelo que for. Jesus também falou dessa posse pelo outro, talvez tenha sido por isso que - dizem - preservou o corpo do contato sexual exatamente para mostrar o perigo do sexo pelo sexo porque, pela imaturidade espiritual, podemos "cair em tentação" de nos aprisionarmos ao outro e este a nós. Aí entra o ego e a confusão fica estabelecida... É um palpite (ou hipótese?) o motivo de Jesus não ter se "acasalado". No entanto com Krishna foi diferente, nesse ponto, porque "acasalou-se" muito, porém demonstrava que a castidade está na alma e se a alma está casta, o corpo não se corrompe na ilusão (Maia).
Numa palestra foi perguntado a um santo - Swami Tílak - sobre a diferença entre amor e sexo. Ouvi a resposta dele, com aquele sorriso azul de Krishna: eu posso amar a todo o mundo, mas não posso fazer sexo com todo o mundo. Essa resposta está de acordo com Paulo que nos ensinou a sábia frase: tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Nessa época da palestra do Swami as pessoas estavam muito confusas com relação ao assunto, creio que pelas más interpretaçoes que foram dadas sobre a fala de Osho Rajneesh.
Há muitos mestres, muitos Krishnas azuis, muitas perguntas, muitas respostas nem sempre satisfatórias. Há muitas explicações para muitas coisas. O importante mesmo é sair perguntando, ouvindo respostas, lendo, criando ideias porque elas nos fazem continuar na busca. Por causa disso finalizo esta minha fala com um pequeno grande texto que li:
Vi muitas vezes homens que ficam neuróticos quando se contentam com respostas insuficientes ou falsas às questões da vida. Procuram situação, casamento, reputação, sucesso exterior e dinheiro; mas permanecem neuróticos e infelizes, mesmo quando atingem o que buscavam. Essas pessoas sofrem de uma grande limitação do espírito. Sua vida não tem conteúdo suficiente, não tem sentido. Por esse motivo a ideia de auto-aprimoramento tem a maior importância (Jung).
Sejamos, então, sedutores e seduzidos pelo som da flauta do Amor. Viva a oportunidade de viver na azulidade!

*Wilson Alexandre Martins Ferreira – Ahava: A chama Azul do Afeto – Ed. Do Autor. Vitória, 2011.
                                                              Neuzamaria Kerner
                                                                       06/10/2011