A palavra gratidão é definida em todos os dicionários da seguinte forma: reconhecimento por um benefício recebido.
Mas será que é só isso?
Recentemente, durante uma forte chuva em Niterói (RJ) um morro desabou encobrindo casas e seres. Pessoas que conseguiram escapar do trágico soterramento, e outras que estavam por perto, ao ouvirem o alarido, partiram sobre o amontoado de terra e cavaram, alguns com as próprias mãos, a fim de resgatar os possíveis sobreviventes. Nem tiveram tempo de pensar no risco que corriam com a possibilidade de novos desabamentos. Ajudavam. Mesmo com a chegada dos bombeiros. Ajudaram incansavelmente e salvaram muitas pessoas. Naquela hora pouco importava se a imprensa chegaria para “celebrizar” o acontecimento e os “salvadores”. Qual o sentimento que movia cada um trabalhador da ‘última hora’? - Solidariedade - podemos responder apressadamente sem refletir. Mas onde entra aí a gratidão?
Uma vez entendido o sentimento da gratidão, e permitido que ele se aprofunde em você, começará a se sentir grato por tudo. E, quanto mais grato você ficar, haverá menos queixas e resmungos. Uma vez desaparecidas as queixas, a infelicidade desaparecerá. Esse é um dos segredos mais importantes a serem aprendidos. (Osho Rajneesh – Filósofo indiano).
Continuando com tragédias ligadas a chuvas, em Salvador, um carro e seu motorista estavam sendo arrastados pela enxurrada. De repente alguém se atira para salvar a quem não conhece, também sem pensar em si, e consegue resgatar o motorista com vida. Dizem que no mundo de hoje não existe sentimento de solidariedade, mas sempre estamos vendo pessoas acudindo outras. O acudido é grato a quem acode – isso é o normal. Mas quem acode será que o faz por causa do sentimento de gratidão pela sua própria vida?
A gratidão é uma dádiva que deve ser paga, mas que ninguém tem o direito de esperar que o seja. (Jean Jacques Rousseau – Pensador suíço).
Em Lauro de Freitas uma moça, acometida de alguns problemas existenciais, saiu vagando dentro da noite e, sob o efeito do peso da dor psicológica, deitou-se numa calçada e dormiu. Um homem aproximou-se e cuidou até que ela acordasse e pudesse dizer quem era e com quem ele poderia falar a fim de que alguém fosse buscá-la. Nos tempos violentos em que vivemos, ele poderia ser um malfeitor, tê-la estuprado, roubado ou simplesmente tentado ganhar alguma recompensa financeira pelo ato de tomar conta de uma pessoa desprotegida num canto escuro de estrada. A família, depois de avisada, foi ao encontro da moça e, ao tentar agradecer ao homem, ele respondeu: não precisa. Fiz como se fizesse a mim ou a alguém da minha família.
(...) É comum ouvir-se a expressão "foi fazer amor" como sinônimo de relação sexual. Do meu ponto de vista, sexo nada tem a ver com amor e nada tem a ver com a verdadeira intimidade. Amor é o resultado de todas as funções já enumeradas: tolerância, humildade, gratidão, generosidade, noção de limites - um não à onipotência. (Jorge W. F. Amaro – Psiquiatra e psicanalista).
Nesses casos apresentados as pessoas que socorreram as vítimas (dos escombros, da correnteza e da dor) ‘fizeram’ amor a os seus semelhantes, ‘fizeram’ gratidão a seus semelhantes. Melhor dizendo: amaram o próximo como a si mesmo. Diante da oportunidade fizeram-se braços de Deus para, amorosamente, cumprir o que deve ser feito por amor, por gratidão – nunca dívida – à vida que recebeu.
Portanto, quem não ama não é grato. Quem não ama é indiferente ao outro. A gratidão é nobreza. É uma virtude que precisa ser cultivada e desenvolvida continuamente. Precisa se tornar um hábito diário para que se possa eliminar o vício das lamentações. A gratidão não deve ser apenas um conceito isolado, preso nas páginas dos dicionários, porque é indissociável da solidariedade e de outros sentimentos. A gratidão é um dos nomes do amor.
Que eu mesma aprenda este ensinamento!